Traduções
A luz interior
Não quero que sofras minha paixão
nem por uma só noite.
Em um espaço enorme. Uma adolescente. Passos de meninas no apartamento. Não há azulejos nas paredes; são somente paredes. Prateleiras com mercadorias. Em um canto, o banheiro, com privada e uma corrente de descarga. No extremo do fundo há um chuveiro. Acoplado ao cano do chuveiro, um aparelho, com resistência, ligado a uma tomada. É um aquecedor de água elétrico. Do teto pende uma lâmpada. Seu cabo se perde nas alturas por uma fenda da porta que dá ao pátio. Debaixo do chuveiro, há uma bacia laranja, cheia de água com sabão. Há uma pia gigante, com um pé voluptuoso que assenta sobre o piso em forma de garra. A única torneira é de bronze e goteja. Do chuveiro, também caem gotas, que vão transbordando da bacia e formam um fio de água que escorre lentamente para um grande ralo que há no centro do espaço.
Shocktoberfest: Thrillpeddlers apresentam sangue, luxúria e gargalhadas.
Publicado originalmente em 15 de outubro de 2010 no link: http://blogs.sfweekly.com/shookdown/2010/10/shocktoberfest_delivers_blood.php
Os Thrillpeddlers(1) fizeram jus a seu nome entregando uma mistura sanguinolenta de luxúria, terror e comédia em três peças de um ato e mais uma quarta peça em colaboração com uma companhia visitante de brasileiros sedentos por sangue.
O evento anual promovido pela companhia de San Francisco chama-se Shocktoberfest 2010: Kiss of Blood. Desta vez ele traz antigos instrumentos de tortura, drag queens vingativas, mutilações, roupas reveladoras, uma canção cômica, um machado, uma furadeira, diversas facas, e sangue… muito sangue.
Striptease
Striptease, que faz parte da trilogia sobre o amor de Lola Arias, estreou no dia 3 de maio de 2007 no Teatro Callejón em Buenos Aires pela Compañía Postnuclear com a seguinte ficha técnica:
Texto e Encenação: Lola Arias
Assistência de direção: Eugenia Schor e Alfredo Staffolani
Elenco: Umaia Kanoore Edul, Gonzalo Martínez e Natalia Miranda
Cenografia: Leandro Tartaglia
Iluminação: Matías Sendón
Sonoplastia: Ulises Conti
Assessoria de imprensa: Daniel Franco e Paula Simkin
Otro [ou] Weknowitsallornothing [ou] Ready To
O trabalho experimental do Coletivo Improviso é tão profusamente multifacetado que desafia sua própria definição, até mesmo num mundo de performances interdisciplinares. Fundado por Enrique Diaz em 1998, o coletivo de nove dançarinos, atores, músicos e um videoartist, existe para facilitar encontros criativos entre artistas de tão variadas disciplinas e formações, para providenciar um espaço comum de oficinas, aprender uns com os outros, pesquisar potenciais novas formas de codificar material e engajar os espectadores. O resultado é uma cornucópia vibrante de movimento, imagem, som e texto, cintilante de sensualidade, riso, ironia e compaixão. Confesso que eu fiquei tão encantada, que fui ver duas vezes. O espetáculo acolhe o espectador com calor e generosidade, faz com que ele vá de encontro a uma exposição enérgica e ricamente texturada da fragmentação e da confusão humanas, para deixar a todos com uma profunda sensação de que tudo está conectado. Cada indivíduo também é uma molécula numa entidade vasta, orgânica e cósmica.
A reprise (resposta ao pós-dramático)
Vol. III, nº 19, março de 2010
O artigo aqui traduzido por Humberto Giancristofaro foi publicado como introdução à revista Études Théâtrales 38-39/2007 – La Réinvention du drame (sous l’influence de la scène).
“Reprise: I. […] 2º Ação de fazer de novo depois de uma interrupção […]. 4º (1611, “reparação”) Técnico. Reparação de uma parede, de um pilar […]. 5º Remendar um tecido para reconstituir sua tecelagem […] II. 1º O fato de voltar a vida, vigor (planta). O fato de dar um novo impulso após um momento de parada, de crise […] 2º O fato de recomeçar, de voltar.” (Petit Robert)
A obra de Hans-Thies Lehmann recentemente publicada na França (1) e, mais largamente, a moda do nome “teatro pós-dramático” têm ao menos a vantagem de lembrar-nos da dissociação entre teatro e drama: o drama – entendamos a forma dramática – não está mais necessariamente no fundamento do teatro; há todo um teatro que não consiste mais na encenação de um drama anteriormente escrito, um teatro que às vezes vira as costas para o drama.