Estudos

Grotowski était un mystique!*

26 de fevereiro de 2010 Estudos

(*Grotowski era um místico! Fala de Peter Brook na sua palestra de 19 de outubro de 2009 no Théâtre dês Bouffes du Nord, na Soirée Grotowski dentro do programa do colóquio do 2009 Année Grotowski –UNESCO.)

Começo esta reportagem para falar da aventura espiritual que se configurou, para mim, acompanhar em Paris o colóquio do 2009 Année Grotowski. Pode parecer incongruente falar de aventura espiritual em se tratando de um relato sobre um evento eminentemente acadêmico. Em princípio temos uma espécie de paradoxo, já que a academia e a espiritualidade, aparentemente, se estranham e se excluem, reciprocamente, dentro do senso comum.

A comédia da embriaguez

26 de fevereiro de 2010 Estudos

Trecho adaptado do livro “Réquiem à infância: um estudo sobre Um sábado em 30 e Viva o cordão encarnado, de Luiz Marinho”

Cachaça! Também conhecida como aguardente, cana, ou caninha. Esses são alguns dos sinônimos mais comuns empregados na denominação deste destilado brasileiro. Seus nomes são múltiplos, proteicos, infinitos. Refletem as metamorfoses da bebida desde sua introdução no Brasil no séc. XVI até à atualidade. Transformações que abrangem tanto o seu modo de preparo quanto o uso e os ritos que lhe são veiculados no decorrer dos séculos e nas distintas geografias em que se estabelece: da farmacopeia e dietética do Brasil colônia, a cachaça é absorvida na liturgia das religiões indo-afro-brasileiras, sendo utilizada tanto por médicos, no período colonial, quanto por curandeiros e benzedeiros ainda hoje; inicialmente, de guloseima dos animais de tração transforma-se em aperitivo de pobre e, posteriormente, ascende ao status de bebida elegante made in Brazil com exóticas batidas para gringo degustar e burguês esnobar. E, ao mesmo tempo, torna-se também uma bebida cult entre a intelligentsia, artigo de exportação da brasilidade. Cachaça, síntese da identidade brasileira.

Nelson Rodrigues: de crítico a criticado – Um melodrama do teatro brasileiro

22 de janeiro de 2010 Estudos

Introdução

Machista, tarado, reacionário. Estes são apenas alguns dos adjetivos atribuídos a Nelson Rodrigues.  Porém, independentemente da opinião daqueles que ajudaram a construir esta visão tão pejorativa, ele foi considerado o primeiro a colocar no palco a vida cotidiana do subúrbio carioca, abrindo caminho para o uso coloquial da língua e inovando as temáticas dos textos teatrais. Nelson Rodrigues é conhecido como escritor, dramaturgo, cronista social e esportivo.

Luiz Arthur Nunes, diretor e pesquisador do melodrama na obra de Nelson afirma que a sua geração achava um sacrilégio trazer dados biográficos para a análise da obra. No entanto, quando se trata deste autor, esta regra há muito foi quebrada. Ao resgatar fatos familiares e profissionais de Nelson Rodrigues, muitos temas que são constantemente expostos nas suas obras fazem sentido. As tragédias, a morte e as traições, assim como a censura e a crítica vão estar presentes em sua vida desde cedo.

Diários do Théâtre du Soleil (3)

20 de julho de 2009 Estudos

ENTREVISTA COM ARIANE MNOUCHKINE

Tenho medo do que ela possa pedir. Percebo que tenho bastante dificuldade com improvisação. Chego uma hora antes e Charles-Henri, assistente de Ariane, pergunta se eu quero fazer no grupo anterior, digo que não. Isso acabaria com toda a minha preparação. Percebo novamente que tenho dificuldade com improvisação, talvez seja o caso de trabalhar isso na análise.

Tenho tudo pronto: Meia calça, segunda pele, calça, camisa de manga comprida, meia para a cabeça e sapatilha. Tudo preto.

Meu grupo é chamado. Somos 30. Chegando lá, somos recebidos por Ariane que nos explica como ela não gostaria de estar fazendo aquilo, mas que infelizmente não pode aceitar todas as 2000 e não sei quantas pessoas que se inscreveram para fazer o estágio.  Meu coração bate mais forte. Ela diz que independentemente da resposta, isso não significa nada a nosso respeito e que a única coisa que ela vai tentar observar é se nós sabemos “receber”. Receber do outro. O exercício é de Coro-corifeu. Fico feliz, pois já fiz esse exercício outras vezes, no estágio com Juliana Carneiro da Cunha e na minha companhia. Olho em volta e procuro Juliana, não a vejo. Gostaria que ela estivesse ali e que ela fizesse o Corifeu, mas ela não está e o nosso corifeu será Duccio, outro ator do Soleil. Ariane divide nosso grupo em 3: 2 de mulheres e 1 de homens.

Diários do Théâtre du Soleil (2)

10 de julho de 2009 Estudos

TERCEIRA SEMANA

Difícil escrever… escolher sobre o que escrever. Às vezes em uma semana de curso a única coisa que fica é uma imagem. Esta semana foi assim. Tivemos muito trabalho, cenas e mais cenas de Ion e Sócrates dialogando, a arte da rapsódia, a arte do ator. Equívocos e apontamentos. Como sempre mais equívocos do que apontamentos, mas é assim mesmo, quero dizer, o trabalho é assim.

E então, na tentativa de nos ajudar, Vassiliev falou de uma imagem que não me saiu da cabeça: que o jogo, a cena seria como dois cachorros quando estão brincando de se morder, na verdade os dois querem ser mordidos, eles esperam por isso, quando acontece eles fogem um pouco, mas logo estão de volta pra recomeçar a brincadeira. Com crianças é assim também, quando elas brincam de pega ou pique-esconde, elas querem ser pegas ou achadas, porque só assim a brincadeira pode continuar. É uma estratégia, é consciente, é estar fora da situação e dentro do jogo.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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