Críticas
Um modo de estar no tempo
O espetáculo Nu de mim mesmo parece nos propor uma experiência no tempo. E assim como o sujeito falante de Primeiro amor de Samuel Beckett, estar no tempo requer que nos balizemos por eventos afetivos de nossa história. Para resgatá-los e enfrentá-los é preciso rememorar, entrar em contato com as ruínas que sobraram do nosso esquecimento. Em Beckett foi preciso voltar ao túmulo do pai e anotar a data de sua morte, para mais tarde voltar e anotar a data do seu nascimento. Começa-se pelo fim para depois voltar ao início.
Ponto sem partida
Com Memória afetiva de um amor esquecido, a companhia Os Dezequilibrados continua investindo nas suas principais propostas – em especial, o trabalho em espaço não-convencional, o vínculo com a gramática cinematográfica e o deslocamento do espectador de uma posição meramente passiva.
Entre estas características, a utilização do espaço não-convencional é, sem dúvida, a mais bem administrada pelo grupo, que investe num espetáculo itinerante pelos oito andares do prédio do Oi Futuro. A verticalidade deste espaço é aproveitada pelo diretor Ivan Sugahara, que já tinha realizado expressiva “ocupação” do quarto de um apartamento em Um quarto de Crime e Castigo e do hall de um cinema em Vida, o filme. Neste novo trabalho, o diretor nem sempre procura aproximar o universo abordado do espaço escolhido, por mais que as instalações do Oi Futuro sejam inicialmente aproveitadas como referentes às da clínica Be Happy, especializada em apagar memórias dolorosas das mentes de seus clientes.
Adultério
Para compreendermos o que acontece com a peça Quatro Pessoas precisamos olhar brevemente para o texto original e lembrar o que se passava na época de sua gênese. Mario de Andrade pesquisou durante um bom tempo de sua vida quais eram os aspectos humanos que formavam as características do brasileiro. Chegou a formular estereótipos bem reconhecíveis em nossa sociedade. Resgatou uma cultura nacional extremamente ligada às nossas raízes indígenas e africanas, deixando uma larga contribuição registrada em sua obra, como em Danças Dramáticas do Brasil: Folclore.
Para revidar o olhar
Em cena, três atores e duas atrizes se dividem em personagens diversos. A situação com a qual a peça se inicia parece conduzir o percurso: o personagem Artur (Adriano Garib), na ocasião do seu aniversário e em meio de uma crise, num momento em que questiona sua trajetória de vida e suas prioridades, revê sua relação com o filho (Fabio Dultra), tendo a namorada deste (Julia Lund) como aliada para uma aproximação. Ele se relaciona com uma mulher imaginária (Miwa Yanagizawa) e com um amigo (Otto Jr), com quem vai realizar um projeto: listar situações em que pessoas estão sendo observadas sem saber, pessoas que vemos, mas que, a princípio, não nos olham. Como observamos na primeira lista que o amigo traz, o critério que guia o olhar é absolutamente subjetivo.
Uma proposta de instalação cênica
Em Pessoas, novo espetáculo da Cia. Atores de Laura, a diretora Susanna Kruger reúne quatro “dramas estáticos” de Fernando Pessoa – O marinheiro, Diálogo no jardim do palácio, Salomé e A morte do príncipe. Os textos de Pessoa são utilizados como precioso canal para uma instalação cênica, na qual o público adquire participação importante.