Críticas

Identidade

10 de setembro de 2008 Críticas

Em cartaz no Espaço Cultural Sérgio Porto, o espetáculo Ingrid, dirigido por Marco André Nunes com dramaturgia de Fidelys Fraga, acontece à meia-noite de sexta e sábado, horário pouco explorado pelas salas de teatro da cidade. Trata-se de um projeto da atriz Carolina Virgüez, colombiana residente no Brasil, que teve como motivação inicial a leitura do livro Coração enfurecido de Ingrid Betancourt, personalidade que se tornou objeto de pesquisa da atriz, ponto de contato com suas origens e personagem do trabalho em questão.

Dramaturgia cênica delicada

10 de setembro de 2008 Críticas
Atriz: Carolina Virgüez. Foto: divulgação.

A cena do espetáculo Ingrid opera um certo deslocamento em relação aos formatos mais usuais de monólogos em teatro. A meu ver não existe uma pretensão de construir um personagem que propriamente retrate a personalidade que é o ponto de partida do espetáculo, nem a peça insiste no sofrimento do cativeiro ao qual ficou sujeita a colombiana Ingrid Betancourt sob o poder das Farc. Acredito que o que está em jogo no acontecimento que o espetáculo quer revelar esteja impregnado nas ações corporais da atriz Carolina Virgüez. Um paradoxo refinado constitui suas ações que, para dar a ver cinestesicamente o sofrimento real de Ingrid Betancourt no cativeiro, trabalha com gestos expressivos que remetem a uma ordem simbólica.

O trabalho de ir e vir

10 de setembro de 2008 Críticas

Em cartaz na 9º Mostra Prática da UniRio, Sísifo, sob direção da aluna-diretora Diana de Hollanda, contém o caráter de performance muito discutido e experimentado nesta universidade. É comum vermos alunos experimentando a atuação performática em seus exercícios cênicos pelo campus, com instalações que de certa forma ganham um caráter de cenografia no espaço, intervindo de maneira direta, para além dos palcos e salas. Esse trabalho faz a atualização dos acontecimentos cotidianos no tempo específico do teatro, o aqui e agora, substitui personagens dramaturgicamente “bem construídos” por performers, não separa espectador da cena.

Inscrição no espaço barrado

10 de setembro de 2008 Críticas

O termo site specific está associado à criação de obras que se configuram na relação com um espaço ou um ambiente determinado. A construção formal desta noção pode ser pensada como algo que materializa um movimento cambiante entre as possibilidades de sentido que o espaço/ambiente tanto sinaliza, quanto esconde. Outra possibilidade para nos acercarmos da noção de site specific diz respeito a uma certa inspiração ou impulso que parte do contexto e estimula a criação do artista. Na performance Site Specific for Love, acredito que as possíveis abstrações que a palavra amor suscita foram confeccionadas justamente pela fricção entre a intranqüilidade da práxis amorosa e o elemento que barra sua realização plena. 

Entre atores

10 de agosto de 2008 Críticas

A montagem de Realidade virtual tem no elenco Claudio Mendes e Marianna Mac Niven, que optaram por dirigir a si mesmos, tendo Josué Soares como diretor de corpo, gesto e movimento. O texto do norte-americano Alan Arkin, traduzido pela própria Marianna, parece bastante despretensioso. Trata-se, certamente, de um texto cômico, mas tanto a dramaturgia como o tratamento dado a ela pela encenação se desviam dos caminhos mais comuns da comédia – digo isso levando em consideração o que é mais visível como comédia no teatro carioca, ou seja, o que mais se vê nos espetáculos que são grandes sucessos de público, como os que fazem apresentações em casas de show ou têm chamadas na televisão. Realidade virtual não tem bordões nem estereótipos, muito menos piadas. Há diversos momentos engraçados, mas não há aquelas pausas para a platéia rir que transformam as peças cômicas em algo parecido com um show de calouros. Não se trata de algo feito exclusivamente para fazer graça; o riso não é obrigatório. No entanto, mesmo dentro dessa perspectiva de comédia, há um pequeno desequilíbrio entre as atuações.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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