Autor Mariana Barcelos

Lugar-memória, corpo-solidão

28 de dezembro de 2012 Críticas
Foto: Divulgação.

Entrar no teatro Poeirinha e mais uma vez ser recebida por um espaço modificado, por outra concepção cênica, que provoca aquela sensação rápida de lugar desconhecido, e que em poucos segundos a memória se organiza e reconhece. O Poeirinha (assim como as salas ditas alternativas) coloca o artista em contato com um espaço totalmente amorfo, e por isso, está sempre apresentando ao público um “lugar” novo. As criações que se apresentam neste espaço parecem surgir, ou se aventurar, por um lugar não definido, não caraterístico e sem similitude com outros espaços de representação. Escrito isto, penso que o espetáculo Primeiro amor, de Samuel Beckett, dirigido por Antonio Guedes, assim como o espaço cênico, nos coloca estes dois pontos para a percepção: o esforço da memória para se lembrar dos fatos vividos e a narrativa construída sobre o chão de um lugar qualquer.

Sobrevivemos, sabe como, dentro de casa

30 de novembro de 2012 Críticas
Foto: Divulgação.

A mutação da forma dramática, na virada do século passado, revela uma crise interna, uma crise da casa e de seus habitantes.*

Jean-Pierre Sarrazac

Em cartaz no CCBB, o espetáculo Esta criança, produzido por uma parceria entre a atriz Renata Sorrah e a Companhia Brasileira de Teatro, apresenta ao espectador carioca a dramaturgia de Joël Pommerat, importante autor/diretor francês contemporâneo. A escolha de um texto inédito no Brasil confirma a importância que a dramaturgia tem na concepção desta montagem, e por este motivo, esta crítica penderá ao texto (assumindo as lacunas que uma crítica deixa sobre uma obra de complexidade), aos seus desdobramentos nos dispositivos técnicos e a ao encontro com este tema que, em alguma instância, nos reflete: a relação entre pais e filhos.

A morte que ninguém pode ver

23 de junho de 2012 Críticas
Foto: Paula Kossatz.

O grupo Dragão Voador Teatro Contemporâneo se apresentou com o repertório denominado Trilogia da Matéria, até o início de junho, no Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto. As três peças – Manifesto Ciborgue (2009), Paisagem Nua (2011) e Amérika! (2012) – tratam de vícios específicos da sociedade contemporânea: o vício ciborgue, sobre o desejo e viabilidade de transformar o corpo com o uso de próteses; o vício da espetacularização midiática da morte, e a consequente banalização da mesma; e, o vício do consumo, iniciado pela sociedade americana. O que une as dramaturgias é um pensamento voltado para ideia de deterioração, sobre aquilo que, nos atos sociais, contribui para a transfiguração do corpo (a prótese, a morte) e a descaracterização do humano (o consumo). A Trilogia inverte o valor das novidades do nosso tempo, o que para a maioria das pessoas pode ser visto como um comportamento favorável, para este conjunto de artistas, trata-se de um anúncio de falência – da “Matéria” em decomposição.

O encontro com o novo público

13 de maio de 2012 Críticas
Foto: Divulgação.

A Cia. Razões Inversas faz temporada no teatro III do CCBB RJ com a peça A ilusão cômica. O texto do dramaturgo francês do séc. XVII Pierre Corneille até então inédito no Brasil ganha com a montagem da companhia de São Paulo o encontro do texto de um autor erudito à época com a base das técnicas de interpretação das comédias populares – principalmente da commedia dell’arte. Uma breve exposição histórica pode ser importante para entendermos como é interessante vermos a união destas duas formas hoje.

A crítica, o artista e o intocável

29 de março de 2012 Críticas
Foto: Divulgação.

Uma história que fala do medo da exposição e o seu limite. O bom canário, texto do norte-americano Zacharias Helm, que esteve em cartaz no Teatro Poeira até o dia 4 de março, expõe a vida do casal Annie e Jack no momento em que os dois tentam lidar com um sucesso literário e um vício em anfetaminas.

Com direção de Rafaela Amado e Leonardo Netto, a peça começa com uma espécie de prólogo, no qual os atores caminham em torno de Flávia Zillo (Annie) que, parada no centro do palco, nem parece escutar as falas de seus companheiros de cena que ditam as características do que seria uma pessoa de personalidade fraca e vulnerável. Insistem em sublinhar a ideia de que “não é o mundo que é pesado demais”, mas sim algumas pessoas que não têm força para viver nele. E esses seres não são geniais, são “bundões”.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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