Autor Mariana Barcelos

O lugar do ressentido

30 de agosto de 2013 Críticas
Foto: Divulgação.

Um filho que esquarteja o pai. Poderia ser capa de um jornal sensacionalista. Ou notícia de um programa de televisão da tarde. Um acontecimento para uma semana de comoção nacional. Mas não é disso que se trata, do esquartejamento do pai, e sim dos motivos por detrás do ato. Cine-Monstro, traduzido por Bárbara Duvivier e pelo diretor Enrique Diaz do original Monster (1998), de Daniel MacIvor, é o terceiro texto do dramaturgo canadense que o diretor brasileiro põe nos palcos. In on it (2009) e A primeira vista (2012) são referência de como o autor organiza a dramaturgia: 1) período longo de tensão na vida das personagens; 2) perda do controle emocional e 3) final supostamente surpreendente.

Nem tudo é memória

24 de junho de 2013 Críticas
Foto: Divulgação.

O saudosismo tradicionalista e sua necessidade de fixar as coisas no tempo. E o medo da perda, que faz pensar que a transformação é unicamente um tipo de morte não desejada. A sociedade dá abrigo aos melancólicos, e isso é bom. Mas os discursos se confundem e muitas vezes o empenho por preservação, torna-se uma tentativa de conservação em modo estático.

Recai sobre os registros e fragmentos do passado este esforço (pessoal e institucional) por “conservação”. O discurso de manutenção da memória está espalhado em muitas instâncias sociais, e na maneira mais estatal lança-se mão do “patrimonialismo” quando algo adquire um valor simbólico e julga-se que deva ser preservado – no Rio de Janeiro, por exemplo, os vendedores de mate da praia são “Patrimônio Cultural e Imaterial da Cidade”. A demanda por patrimonialização, ao que parece, aumenta e alarga suas fronteiras a cada dia. Mas tem duas categorias que tem suas formas de expressão carimbadas como patrimônio histórico, cultural, imaterial, etc., há muito tempo: a arquitetura e as manifestações da “cultura tradicional”.

Nunca fomos miseráveis

31 de março de 2013 Críticas
Foto: Igor Helal.

O caos político e o crescimento econômico de Paris em meados do século XIX é o contexto histórico deste espetáculo. Poucos anos após a Revolução Industrial, os trabalhadores franceses se multiplicavam em fábricas com condições de serviço vis. Amontoavam-se miseráveis nas zonas pobres da cidade, e dessa densidade demográfica forçada cresceram muitos movimentos de luta política. Durante revoltas e barricadas, dois reis foram derrubados e milhares de pobres foram mortos. A derrota dos reis é sintoma do enfraquecimento do regime político diante das mudanças. Já quando parte do povo morre, os que ficam se reconhecem na dor e ganham força, entendem-se como coletivo, e uma classe se constitui. Os Miseráveis, baseado no romance homônimo de Victor Hugo, expõe o proletariado francês sem recursos, desesperado, brigando por melhorias de vida no início dos tempos modernos.

Laura quer vida eterna ou A tragédia reside em nós

23 de fevereiro de 2013 Críticas
Foto: Divulgação.

O Armazém completou 25 anos em 2012. A marca da água, o último espetáculo estreado em agosto, apresentou ao público cativo da Cia. as particularidades da linguagem cênica criada e consolidada ao longo de tantos anos de história. Quem acompanha o trabalho desses artistas, sabe que suas encenações se ocupam de explorar as relações humanas por meio de uma perspectiva singular, na qual o lirismo e a narrativa são abundantes e fluentes como se fossem próprios ao gênero dramático. E as vidas de suas personagens, geralmente, carregam muito passado, e, por isso, muita memória e muito afeto. Não foi diferente desta vez, porém, com 25 anos, a redescoberta de si parece ser o caminho para a renovação, e nas palavras do diretor Paulo de Moraes: “Não podemos ter medo de morrer afogados”.

Eu, ele, e o conflito

28 de janeiro de 2013 Críticas
Foto: Divulgação.

“Aí está uma das razões pelas quais evito falar tanto quanto possível. Porque sempre falo demais ou de menos, o que sempre me faz sofrer […]”.

Samuel Beckett, em Molloy

Falar de Beckett é deixar ver suas lacunas. Moi Lui, adaptação de Isabel Cavalcanti do romance Molloy, está em cartaz no Poeirinha, como parte do “Projeto Beckett”, no qual a atriz Ana Kfouri encena duas peças a partir de obras do autor; a dramaturgia Primeiro Amor, e a adaptação em questão.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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