Autor Luciana Eastwood Romagnolli

Irresponsabilidades aos olhos do voyeur

31 de julho de 2012 Críticas
Foto: Daniel Protzner.

Ser espectador diante de um espetáculo da companhia colombiana La Maldita Vanidad é assumir a posição de voyeur. A encenação hiper-realista oferece-se como um pacto de ilusão, pelo qual se falseia o testemunho de um acontecimento da vida alheia. Eis o paradoxo no qual o grupo envolve o público: quanto mais persegue o real nos menores detalhes de ações, falas e espaços, mais se torna capaz de fazê-lo suspender a descrença, ou seja, de iludi-lo. O efeito de ilusão, contudo, depende da radicalidade no uso dessa linguagem e da complexidade da situação em que é empregada, e está sempre sob o risco de se desfazer. No limite do hiper-realismo, qualquer fissura pode desestabilizar o pacto.

A impossibilidade da representação do trauma

31 de julho de 2012 Críticas
Foto: Daniel Protzner.

Ao redor de uma mesa de reunião, três mulheres jovens debatem o destino de um terreno. A cena armada com tal simplicidade pelo dramaturgo e diretor chileno Guillermo Calderón vem de encontro à noção da impossibilidade da representação do trauma que sustenta o espetáculo Villa, apresentado no 11º Festival Internacional de Teatro Palco e Rua de Belo Horizonte. O terreno em debate é o vestígio de um antigo centro de tortura e extermínio mantido pelo governo chileno do general Pinochet. A Villa Grimaldi foi cenário de atentados contra a vida e de todo tipo de outras atrocidades, até mesmo o estupro de mulheres por cachorros, antes de ser derrubada pelos militares. A questão posta em discussão pelas personagens é como tratar esse passado atroz sem desrespeitá-lo ou diluí-lo. Como falar que mulheres eram estupradas por cachorros sem criar não mais que uma frase de efeito sensacionalista?

A família sob a perspectiva do teatro

1 de março de 2012 Críticas
Foto: Alessandra Haro.

A Companhia Brasileira de Teatro estreou em setembro de 2011, em Curitiba, Isso te interessa?, espetáculo que coloca em cena os atores Ranieri Gonzalez e Giovana Soar, como pais, e Nadja Naira e Rodrigo Ferrarini, como filhos, explicitando as difíceis relações no microcosmo familiar, em que uma viagem ao balneário francês de Saint Cloud é sempre aludida como esperança de felicidade. O texto da dramaturga francesa contemporânea Noëlle Renaud traz uma estrutura peculiar de falas intercaladas a rubricas dentro de uma mesma frase, que propõe aos atuantes um desafio constante de trânsito entre diferentes registros – desde a representação de personagem até a indicação direta das ações, com gradações de distanciamento. E esse entrar e sair dos personagens é intensificado pelo revezamento dos quatro atores no papel do cachorro da família, que observamos nos limites de um cenário em perspectiva.

Formação

24 de junho de 2011 Conversas

LUCIANA ROMAGNOLLI: Qual a situação geral da formação de ator no Brasil hoje, numa perspectiva panorâmica?

FERNANDO MENCARELLI: A estrutura da formação de ator, de um ponto de vista panorâmico, passou muito pela formação direta, na prática, que foi tradicional no Brasil por décadas. Primeiro o ingresso no amadorismo e a profissionalização depois. Isso continua a existir, mas já não é predominante. Outra forma de formação está vinculada aos grupos de teatro. A partir dos anos 1970 e nos anos 1980, época de estruturação dos grupos, eles tiveram a preocupação de atuar na formação de atores por um princípio de lógica interna do teatro de grupo, mas também pela necessidade de contribuir com ações para profissionalizar os seus membros. E muitos grupos expandem sua atuação para além desses membros. Outro meio ainda é a formação nas escolas ou centros. Esse é um histórico longo que remete a mais de um século. Foi um projeto do fim do século XIX expandido no século XX. Tanto os centros de formação independentes, quanto aqueles no âmbito de um sistema mais formal de ensino técnico ou universitário (que ainda vem se desenvolvendo). Vivemos um momento especial. Os últimos vinte anos foram multiplicadores de cursos.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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