Autor Lúcio Espírito Santo
Entre Gargantas e Gárgulas: o teatro não-dramatúrgico de Gerald Thomas Pós-manifesto e suas aporias
Introdução
Segundo matéria recente da Folha de São Paulo, o teatro de Gerald Thomas encontra-se numa fase de transe, uma fase de aniquilação e renascimento. Após lançar um manifesto deixando o teatro em 2010, o diretor Gerald Thomas montou uma nova peça em 2011, Throats, posteriormente transformada em Gargolios, apresentada no SESC paulista em julho de 2011. Esse artigo entende esta peça como uma nova fase e intenta analisá-la à luz das fases anteriores da obra desse diretor.
Em seu retorno ao teatro, pode-se dizer que o diretor Gerald Thomas busca o sucesso internacional e a quebra de vínculos com o Brasil, mais do que em inaugurar uma nova estética. Nesse ínterim, criou a London Dry Opera, passando adiante a Cia de Ópera Seca, que existia em São Paulo, para o iluminador e diretor Caetano Vilela. E, paradoxalmente, Thomas veio excursionar no Brasil com sua companhia inglesa, ao invés de montar Gargolios (e que aqui traduzirei como Gárgulas) com a companhia brasileira (anteriormente dirigida por ele). Gárgulas veio, então, até São Paulo como uma produção estrangeira, com um elenco em boa parte inglês e tendo sua peça apresentada com legendas em português. Por outro lado, Thomas retorna à sua escrita cênica e às suas obsessões. Ele desenvolve, então, sua própria dramaturgia em contexto de um teatro não-dramatúrgico.
Uma descida no maelstron
Introdução
O início dos anos 80 foi o momento em que o Brasil reconheceu o talento de encenador de Gerald Thomas. O contexto em que sua peça Quatro Vezes Beckett fez sucesso era de redemocratização e abandono das preocupações políticas dos anos 70. A partir de então, transformou-se o contexto em que boa parte dos diretores e dramaturgos brasileiros tinham sido primordialmente brechtianos, mas vivia-se um momento em que Brecht foi perdendo, paulatinamente, sua influência.
Essa pesquisa visa estudar e verificar uma importante mudança ocorrida na carreira do encenador Gerald Thomas desde meados dos anos 2000: Gerald decidiu não mais encenar textos de outros autores, esforçando-se agora por encenar e redigir sua própria dramaturgia. A primeira experiência dessa nova fase foram as peças Terra em Trânsito e Rainha Mentira (Queen Liar). Ele se aproxima, portanto, do traço autoral de um Glauber Rocha, que sempre escrevia e dirigia seus filmes, tendo todos eles a sua marca, sua assinatura autoral e muitas vezes, como em Idade da Terra, sua presença física e voz propriamente ditas.