Autor Humberto Giancristofaro

A sobrevivência do tempo

26 de fevereiro de 2010 Críticas

Atrizes: Rosanne Mulholland e Simone Spoladore. Foto: Hannah Jatobá

Questões formais

Na peça Louise Valentina, o diretor Felipe Vidal usa recursos cinematográficos que sugerem uma percepção diferenciada do espaço cênico. Ele acrescenta uma profundidade de campo ao palco ao projetar quatro sequências de curtas-metragem dirigidos por Marcela Lordy. A profundidade de campo foi uma técnica inovadora de filmagem que surgiu no cinema da década de 40; ela permite que o espectador de cinema veja um só plano que põe em relação o plano de fundo com o primeiro plano, passando por todos os três tipos de plano: geral, médio e close. Este procedimento foi desenvolvido por Orson Welles que, ao por a câmera em um ângulo diagonal preciso, conseguia atravessar todos esses níveis e mantê-los em foco. Foi bem explorado por ele no filme Cidadão Kane para acrescentar diferentes níveis de situação e de tempo em uma única imagem.

Todo mundo morre no final

24 de janeiro de 2010 Críticas

De Wroclaw, Polônia

Na pequena cidade de Worclaw, no interior da Polônia, aconteceu o Festival Internacional de Teatro The World As A Place Of Truth organizado pelo The Grotowski Institute. Durante todo o mês de junho grandes nomes do teatro contemporâneo intercambiaram seus trabalhos para uma plateia quase toda formada pelos próprios atores que se apresentavam no festival. A primeira semana foi dedicada a Eugenio Barba e seu último trabalho: Ur-Hamlet.

A peça foi montada no pátio da antiga arcádia da cidade que guarda a arquitetura de um pequeno forte com enormes portões de madeira e paredes de tijolos. Utilizando diferentes estilos de teatro ritual, Barba monta de fato um ambiente que invoca o clima de uma cerimônia. A peça foge da representatividade e do conceito textocêntrico, falando diretamente ao centro dos sentidos, ao sistema nervoso. Os espectadores participam desse ritual antropológico.

Niilismo cômico

20 de junho de 2008 Críticas

A trama da peça O Doido e a Morte, texto de Raul Brandão encenado pelo Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo, de Cabo Verde, parece fácil de ser descrita: um doido entra no gabinete do governador com uma bomba. O modo como os personagens lidam com essa situação revela uma sátira cheia de espirituosidade e dotada de um estilo bem humorado de ver a vida através da morte.

Aos poucos, três elementos se revelam e se mostram relacionados sob duas forças, dois movimentos distintos. O primeiro elemento é composto por dois artifícios: uma grande tela branca ao fundo do cenário, que assume cores marcantes com a luz e que vai acompanhando as mudanças de tons do espetáculo; junto com efeitos sonoros que dão máxima expressão a pequenos detalhes. Essa sonoplastia ressalta especialmente os movimentos mímicos. A tela não é bem um pano de fundo: os poucos objetos que compõem o cenário são transparentes ou vazados, de forma a sempre incorporar a cor que irradia de trás e que se torna dominante na cena.

Memória como tradição

20 de junho de 2008 Críticas

O FESTLIP trouxe o carismático Grupo Mutumbela Gogo de Maputo para encenar As Filhas de Nora. Nora é a mesma da Casa de bonecas, e esta encenação moçambicana propõe uma continuação à história de Ibsen, respondendo o que teria acontecido com as três filhas de Nora após o sumiço da mãe. Porém, as filhas desta peça também são filhas da África e transportam o drama realista da problematização social que Ibsen enxergava na Noruega para uma realidade contemporânea das doenças sociais sofridas pelas mulheres de Maputo. Foi incrível identificar tamanha semelhança e continuidade nos problemas com  um século de diferença.

Elogio à alteridade

10 de junho de 2008 Críticas
Foto: Marcus Claussen

O texto de Adriano Shaplin utiliza uma fórmula de ação comum ao gosto da cultura norte-americana acostumada com as tramas Hollywoodianas, porém é contra a formação destas que ele constrói sua denúncia. É transparente na peça a raiva que o inspirou a escrever sobre o casamento da mídia Americana com a política militar de intervenção externa do governo Regan-Bush, criando imagens que pudessem ser mobilizadas para produzir a aprovação das guerras deste governo. Segundo o autor, a peça também pode ser vista como uma comédia, já que ele usa a caricatura para ressaltar os valores que considera corrompidos. Furiosamente inspirado na guerra do Iraque, iniciada em 2003, Shaplin recorre à realidade dos mariners para contar sua estória.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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