Autor Daniela Amorim
Notas sobre a paisagem
Sobre o autor:
1. Partindo de uma impressão de “lugar-estado”, é possível pensar um uso específico da palavra deserto como categoria crítica na análise da paisagem poética em Koltès: o deserto enquanto sombra. Não se trata aqui de pensar apenas o deserto físico como natureza inóspita e exuberante; antes, retirar da paisagem concreta o conteúdo de suprema desterritorialização, a sensação de terra de ninguém, ou de passagem de viajantes rápidos, ou morada de animais pouco visíveis; lugar onde o perigo está sempre à espreita. Utilizar a transitoriedade desértica como metáfora de uma sensação muda de perigo sempre iminente: o homem em contato com a sua sombra nas figuras da solidão, da animalidade, do cadáver.
O deserto se instala em Koltès pela passagem das horas: em áreas comuns ao habitat humano das grandes cidades – um canteiro de obras, um parque, uma estação de metrô, uma prisão, a casa –, ele aparece ao entardecer ou à noite, quando no espaço não há mais trânsito corriqueiro e povoado. Através da mudança, ou da falta de luz, o deserto chega no tempo como sombra e vazio, e inunda o espaço, transformando a paisagem.
Sobre In on it e outras coisas
A conversa com Enrique Diaz foi realizada em 21 de maio de 2009
DANIELA AMORIM – Quando a gente se encontrou, pouco antes do último ensaio aberto da peça In On It, você falou alguma coisa sobre a peça ser “diferente”; você parecia estar fazendo uma distinção entre o que eu veria, ali naquela montagem, e alguma coisa que eu esperaria ver numa peça sua. Isso tem a ver com alguma noção de identidade que você atribui ao seu trabalho, à sua intervenção como diretor numa montagem, e que não estaria tão presente nesta montagem? O que seria isto?