O que é a crítica?

Para arriscar alguma resposta, penso em Foucault, e em como se aproximou do termo, na conferência que ofereceu à Sociedade francesa de filosofia, em 27 de maio de 1978, intitulada O que á a crítica? (Crítica e Aufklärung [Cítica e reconhecimento]). Ao observar o que chama de “atividades polêmico-profissionais que trazem esse nome de crítica”, percebe que nessas atividades “uma certa maneira de pensar, de dizer, de agir[…] uma certa relação com o que existe, com o que se sabe, com o que se faz, uma relação com a sociedade, com a cultura, uma relação com os outros também, e que se poderia chamar, digamos, de atitude crítica” (Foucault, 1990: p.2). Portanto, pelo que observa o filósofo, antes de se formular como discurso, a crítica caracteriza uma atitude. Uma atitude cuja natureza se delineia e cuja função, como ele diz na mesma página, se configura “em relação a outra coisa que não ela mesma”.

A primeira noção sobre a natureza relacional da crítica, consequente à lógica que Foucault estabelece, remete à ideia de discurso intermediário, de instrumento. A crítica é instrumento, “meio para um devir” (Foucault: p.2). Sob esse aspecto, a crítica, ou melhor, o discurso pelo qual se manifesta, constitui-se em discurso a serviço de, discurso à disposição de, e que estabelece, com os campos de conhecimento ou de produção em que se insere, e a que refere, uma relação de pertencimento. Para esse campo eleito, estabelece princípios, critérios e códigos específicos, conforme os modos de pertencimento que queira estabelecer.